segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

ESPAÇOS DE SAÚDE: MAIS DO QUE LOCAIS DE PRÁTICAS CLÍNICAS


Na manhã do dia 20/01 visitamos a Unidade de Pronto-atendimento de Manguinhos (UPA Manguinhos). Trata-se de unidades emergenciais próximas a comunidades carentes, que visam criar uma “rota alternativa” às emergências hospitalares entupidas.


O objetivo da atenção deste serviço, como o próprio nome já sugere, é o pronto-atendimento, ou seja, resolver situações emergenciais graves, que não necessitem de internação (na verdade, existem leitos, “minis-CTIs”, que possibilitam uma estadia de no máximo 24 horas na UPA). Caso se necessite de maior período de internação e tratamento, procede-se ao deslocamento do usuário a um hospital especializado.
No entanto, como nos explicou a Dra. Valéria, atual coordenadora do serviço, ao invés das UPAs desafogarem os hospitais, o que se viu na prática foi um esvaziamento dos postos de saúde. Ou seja, muitos usuários passaram a procurar a UPA para resolver problemas que poderiam ser atendidos pela atenção primária, o que fez com que a maior parte do atendimento da UPA seja ambulatorial, ao invés de emergencial. Esta questão também seria uma das motivações da criação das clínicas da família, já que o usuário, muitas vezes, tem a UPA como uma referência para qualquer questão relacionada à saúde, simplesmente por seu território não possuir nenhum tipo de atenção básica.
Na tarde, visitamos a praça e o centro cultural que foi construído ao lado deste serviço de saúde (que também está ao lado de uma clínica da família). A praça me pareceu com um aspecto ainda pouco aprazível, já que se apresenta com poucas árvores, folhagens e sombras. Já o centro cultural dispõe de ampla biblioteca, videoteca, sala de recreação, museu, entre outros espaços que proporcionam às pessoas acesso a conhecimentos, saberes e informações, possibilitando-lhes a interação com a arte e a cultura. 







Ver um espaço como este, onde um serviço de emergência, outro de atenção primária, e um centro cultural estão tão próximos, me faz pensar na importância da articulação do setor da saúde com outros setores públicos, para que se pense em espaços de práticas em saúde que não sejam fragmentados das outras instâncias do viver coletivo humano. Mais especificamente, penso no efeito que uma iniciativa deste porte pode exercer sobre a própria concepção de saúde que se costuma ter. Um espaço onde saúde, lazer, cultura e arte aparecem lado a lado pode ser um bom convite ao borramento das fronteiras tão firmemente demarcadas entre estas áreas. Um convite e um desafio à busca de novas formas de expressar e compreender a dor, o sofrimento, ter um lugar no mundo para além de um diagnóstico, por exemplo.






domingo, 23 de janeiro de 2011

"ANDAR, ANDAR, NAS RUAS DO RIO"


Quarta-feira, 19/01. Pela manhã, voltamos à clínica Hans Jürgen Fernando Dohmann, onde participamos de visitas domiciliares (VD’s) com as agentes comunitárias e o médico da família. Fomos até a vila Patrícia Pinto, uma das áreas de abrangência daquela clínica.
Já na visita de segunda-feira, já nos havia sido frisado que aquele era o território com maiores carências dentre aqueles coberto pela atenção da clínica: ruas despavimentadas, esburacadas, alagadas, esgoto não-tratado e não-canalizado, lixo ao céu aberto...
Durante a visita neste dia, as agentes e o médico nos explicaram que aquele território se tratava de uma ocupação relativamente recente, e que esse seria um bom motivo para a sua invisibilidade diante dos setores públicos responsáveis por obras que resolveriam problemas estruturais coletivos básicos. A própria equipe de saúde estava visitando famílias naquele dia recém pela segunda vez, desde a inauguração da clínica.
Quanto às visitas domiciliares, cabe destacar a atuação do médico da família que acompanhava a equipe. Para cada visita que seria realizada, ele já tinha previamente estabelecido objetivos. E estes objetivos não se restringiam apenas a questões referentes a patologias específicas ou medicação: muito antes pelo contrário, sua abordagem abarcava questões referentes à vida dos usuários, de uma maneira tão ampla, que ficava difícil acreditar que aquele profissional tinha apenas formação em medicina. De fato, ele mostrou na prática o que é o “olhar integral”, ainda que sua formação tenha se dado numa área tradicionalmente resistente a este tipo de abordagem, pautada por uma formação por vezes fragmentadora e excessivamente especializada. Após as visitas, este médico nos explicou que trabalhava com uma idéia de “diagnóstico biopsicossocial”, e que sua formação na residência em medicina da família lhe proporcionou vários subsídios para atuar desta forma.
Já na parte da tarde, nos dirigimos ao posto de saúde Dr. Alvimar de Carvalho. Neste serviço, tivemos uma palestra com uma enfermeira sobre a patologia hanseníase. Totalmente em oposição a abordagem do profissional que conhecemos durante a manhã, a abordagem desta profissional focava-se exclusivamente nas especificidades orgânicas da doença em questão, ainda que uma usuária que teve a doença estivesse junto naquele momento.  

Título do post: "Andar, andar", de Alceu Valença. 
http://letras.terra.com.br/alceu-valenca/123491/