Na manhã do dia 20/01 visitamos a Unidade de Pronto-atendimento de Manguinhos (UPA Manguinhos). Trata-se de unidades emergenciais próximas a comunidades carentes, que visam criar uma “rota alternativa” às emergências hospitalares entupidas.
O objetivo da atenção deste serviço, como o próprio nome já sugere, é o pronto-atendimento, ou seja, resolver situações emergenciais graves, que não necessitem de internação (na verdade, existem leitos, “minis-CTIs”, que possibilitam uma estadia de no máximo 24 horas na UPA). Caso se necessite de maior período de internação e tratamento, procede-se ao deslocamento do usuário a um hospital especializado.
No entanto, como nos explicou a Dra. Valéria, atual coordenadora do serviço, ao invés das UPAs desafogarem os hospitais, o que se viu na prática foi um esvaziamento dos postos de saúde. Ou seja, muitos usuários passaram a procurar a UPA para resolver problemas que poderiam ser atendidos pela atenção primária, o que fez com que a maior parte do atendimento da UPA seja ambulatorial, ao invés de emergencial. Esta questão também seria uma das motivações da criação das clínicas da família, já que o usuário, muitas vezes, tem a UPA como uma referência para qualquer questão relacionada à saúde, simplesmente por seu território não possuir nenhum tipo de atenção básica.
Na tarde, visitamos a praça e o centro cultural que foi construído ao lado deste serviço de saúde (que também está ao lado de uma clínica da família). A praça me pareceu com um aspecto ainda pouco aprazível, já que se apresenta com poucas árvores, folhagens e sombras. Já o centro cultural dispõe de ampla biblioteca, videoteca, sala de recreação, museu, entre outros espaços que proporcionam às pessoas acesso a conhecimentos, saberes e informações, possibilitando-lhes a interação com a arte e a cultura.
Ver um espaço como este, onde um serviço de emergência, outro de atenção primária, e um centro cultural estão tão próximos, me faz pensar na importância da articulação do setor da saúde com outros setores públicos, para que se pense em espaços de práticas em saúde que não sejam fragmentados das outras instâncias do viver coletivo humano. Mais especificamente, penso no efeito que uma iniciativa deste porte pode exercer sobre a própria concepção de saúde que se costuma ter. Um espaço onde saúde, lazer, cultura e arte aparecem lado a lado pode ser um bom convite ao borramento das fronteiras tão firmemente demarcadas entre estas áreas. Um convite e um desafio à busca de novas formas de expressar e compreender a dor, o sofrimento, ter um lugar no mundo para além de um diagnóstico, por exemplo.